Em pleno Verão de 1989 nascia uma Caranguejo de 53cm e pouco mais de 3kg. Aos três anos de idade é operada de urgência, a sua vida corria perigo. Sobreviveu. A partir dessa operação e apesar da alimentação saudável que levava, começa a engordar. A sua infância foi bastante activa, foi passada quase na totalidade em brincadeiras e corridas na rua, longe das transformações que os videojogos causaram nas infâncias das demais crianças.
Aquando da entrada para a escola primária,era já mais alta, não só dos seus colegas, mas também da sua professora. No entanto, nunca foi discriminada. Foi uma fase feliz e cheia de actividade.
Aos 10 anos viria o ensino básico e, aí, apesar de continuar com os melhores colegas que podia ter tido, foi muitas vezes discriminada pelos "miúdos grandes" da nova escola. Faziam-no para serem vistos como muito fortes e muito engraçados perante os outros amigos. Agora que pensa nisso até tem pena da ridicularidade deles, mas na altura a mágoa era muito grande. Só se sentia segura em casa. Onde ninguém a iria atormentar. Foram dois anos nessa escola.
Segue-se a próxima. Foi nessa altura que começou a sofrer em silêncio com uma doença. Pensou que a família tinha problemas bem mais graves com que se preocupar e ela decidiu nunca partilhar o que estava a acontecer. Foram poucas as vezes que se sentiu mal na nova escola, excepto nas aulas de educação física. Até aos 14 anos ia inventando desculpas para ir faltando às aulas onde eram praticadas as modalidades em que menos estava a vontade. Afinal, ela era a mais cheinha e gordinha de todos os seus colegas. E palavras como cheinha e gordinha apaziguavam o que na realidade era.
Aos 15 decidiu que a sua forma de pensar teria de mudar. E mudou. Novos colegas, novos amigos. E as velhas desculpas para faltar às aulas de desporto deixaram de existir. Decidiu não se inferiorizar perante si mesma. Não era menos que ninguém, pelo contrário, até tinha bem mais que os outros. (O sentido de humor foi algo que sempre a acompanhou, como a sua maior defesa.) Assim, as aulas de educação física tornaram-se das suas preferidas e nunca mais faltou, a não ser por motivos de doença, que não tardavam em chegar. No Verão de 2006 não aguentou mais a doença que a seguia desde os 12 anos. Foi ao médico e o que lhe foi dito assustou-a ao início. Fevereiro de 2007, mais uma operação, mais uma anestesia geral, mais uma batalha ultrapassada.
Antes da operação, em Janeiro, a 29 de Janeiro de 2007, começou uma longa batalha. Melhor, a maior Guerra da sua vida. Após ter consultado um nutricionista que lhe prescreveu um plano alimentar de reeducação, cumpriu religiosamente todos os parâmetros nos meses seguintes. Em menos de um ano conseguiu perder 15kg. Estava feliz, o seu esforço estava a dar resultado e estava a conseguir combater a sua doença crónica. Conseguiu reduzir um pouco o seu Índice de Massa Corporal, reduzindo assim a sua obesidade. Estava num bom caminho. Entrou na faculdade, foi viver para outra cidade, tudo era novo. Conseguiu continuar a cumprir o plano alimentar, mas agora o seu peso quase não se alterava. Foi perdendo a motivação. A juntar a isso, outros factores externos foram ajudando a complicar o seu percurso. Nos últimos tempos não tem tido aquilo de que mais necessita para conseguir continuar: Paz. Só pede que tenha isso. Não quer mais nada. Com Paz conseguirá dar rumo ao que tem deixado agora estagnado. Sim, não engordou, mas também não emagreceu. A próxima consulta está para breve e além de não querer desiludir-se a si própria, não quer também desiludir o seu médico, aquele que tanto "puxa" por ela, o único que a compreende. Ele sim sabe, a culpa não é dela...