Dia nove. Mês de Verão.
O Verão dilatou a alma de felicidade.
O Outono deitou por terra a ilusão.
O Inverno congelou a esperança.
E hoje, dia nove. Mês de Primavera.
Nove meses depois. Nada mais há a dizer.
Tudo morreu, tudo chegou ao fim.
Muito tenho feito para tentar saber de ti. Dou-me a esse trabalho.
Todos os dias, vezes sem conta, vou onde sabes que vou.
Mas nada, são raras as vezes em que há novidades.
Tudo isso tem de acabar, tudo isso vai acabar.
Hoje, pelo que vi, já nem deves lembrar de mim, de nada.
Fui um número. Um número sem alma e sentimentos.
Destesto o que me fizeste, com todas as minhas forças.
Mas não consigo detestar-te. Nem quero.
De que adiantaria?
Só faria mal a mim mesma. Como tenho feito.
Mas isso tem de mudar, mas isso vai mudar.
Chega.
Vou deixar de lado o mal que me consome.
Vou "guardar o que é bom de guardar".
Serás sempre parte de mim.
Tu. Tu que afinal és real, boa sorte.
Tu. Tu personagem que amei, sê feliz.
E como me disseste, vezes sem conta, "passado é passado... não importa mais".
Agora entendo porque o dizias. Entendo como para ti é fácil. Antes assim.
Este é o meu adeus, a despedida. Não para ti, mas para a tua existência em mim.
O muro das lamentações termina aqui. E a fonte, aquela que no Inverno abundava, secou.
Até sempre.